Os cornos

di Antonio de Curtis

Nascemos todos com o mesmo destino
de má sorte que vai e vem... e volta;
uns nascem de marreca atrás das costas,
e outros de ter cornos têm a sina.

Eu por exemplo näo me ponho à parte;
Penso: um corno ou outro sempre os tive,
mas nunca a ponto de ficar chocado.
O que hei-de fazer se tarde os descobri?

Uma vez até fui à quiromante
que na palma da mäo me leu a sorte,
e me explicou: «Foi sempre um triste amante.
Vê esta linha aqui, que é täo torta?

Esta é que é a linha do amor,
dá a volta ao chegar ao meio da mäo.
Que hei-de dizer, caríssimo senhor?
Com esta linha cornos näo lhe faltaräo.

Veja aqui também este sinalinho:
este sinal näo há quem o ignore:
quem o pôs nas mäos foi S. Martinho
que dos cornudos é santo protector.»

Ouvindo tais palavras, pela mente
me passaram mais de mil pensamentos:
vou a casa e mato toda a gente,
meu Deus, livra-me de mais sofrimentos.

«Essa é boa... Entäo? (uma voz cá dentro
segredou-me). «Deixa lá... Qual ciúme?
Os cornos säo uma coisa sempre eterna,
nada a fazer, é a história do costume.

Até Adäo estava no Paraíso:
mesmo assim Eva o pôs ornamentado.
Aos cornos é melhor dar um sorriso,
que nem Napoleäo escapou ao fado...»

traduzione di
José Calaço Barreiros